Ela já enfrentou as maiores dificuldades por não ter dinheiro suficiente nem para complementar a alimentação da família. Trabalhadora incansável, multiplicou valores irrisórios com o próprio suor, melhorou de vida e hoje dá palestras para pessoas que desenvolvem projetos públicos sociais e políticos... sem deixar de lado seu apurado senso de economia e investimento.
Começar o negócio com R$ 1 milhão teria sido bem mais fácil, mas Raimunda só tinha R$ 1. O que para muita gente é troco, para ela era uma pequena fortuna.
"Às vezes, eu tinha só o feijão, o arroz, não tinha uma merenda para dar para essas crianças comerem", conta a quituteira Raimunda Pereira.
Quando Raimunda se viu apenas com R$ 1 na mão e muita necessidade em casa, resolveu apostar numa receita que aprendeu com os pais. Com o dinheiro, comprou goma, a massa usada para fazer a tapioca. Um vizinho deu os cocos. Ela preparou tudo. E com 25 tapiocas começou um negócio.
"Me levantei de madrugada, caladinha, sozinha, quebrei uns coquinhos, fiz 25 tapiocas e saí vendendo. Vendi tudinho”, lembra ela.
Ela voltou para casa com menos de R$ 10 e uma pergunta: O que fazer para esse dinheirinho render?
"Primeiro eu tinha que comprar o material para trabalhar, porque se eu não comprasse, eu gastava o dinheiro todo em casa e como era que eu ia trabalhar sem ter material?”, conta Raimunda.
A produção foi aumentando, as encomendas também. O primeiro grande cliente foi o dono da padaria do bairro, na periferia de Fortaleza.
"Comecei com dez tapiocas. Aí foi aumentando. De dez passou para 15, de 15 para 20, para 30. Depois passou para 50", lembra ela.
"Ela deixa de manhã, a tarde passa cobrando e a gente paga. Nunca fiquei devendo, ela não deixa”, diz o dono da padaria Cristiano Marques.
Já não faltava mais comida em casa e Raimunda até pensou em fazer uma pequena extravagância, comprar um vestido novo.
“Quando eu cheguei na loja eu olhava para os tecidos, olhava para os vestidos e fica pensando que não ia dar", lembra ela.
Foi o espírito de empreendedora que falou mais alto.
“Andei em muitas lojas, muitas. Não comprei o vestido, comprei foi as peças para eu trabalhar, forma para fazer tapioca", conta ela. Com os novos equipamentos, a produção se multiplicou. A família, que não botava fé no negócio, passou a acreditar. Ela, os filhos e o marido montaram uma cozinha maior em casa para fazer as tapiocas.
“Eu faço 350, 400, quase todo dia", garante Raimunda.
Os valores ainda são pequenos. O investimento que Raimunda fez no começo, R$ 1, equivale hoje a três tapiocas menores. Outras custam R$ 0,40, cada. Mas foi assim, de moeda em moeda, de real em real, que ela conseguiu formar um pequeno patrimônio. Reformou a casa onde mora e construiu outros quatro imóveis para alugar, na periferia de Fortaleza.
"Para mim é um castelo que eu tenho, é um futuro para minha vida, um futuro pros meus filhos mais tarde", afirma ela.
Sete anos depois, Raimunda sabe que deve manter o ritmo de trabalho. Levanta de madrugada, todos os dias.
"A gente se levanta às 2h”, conta.
Quando termina de fazer as centenas de tapiocas, ainda tem fôlego para entregar o café da manhã.
Ela vende nas ruas, de porta em porta.
“O sabor do coco é muito bom, bem macia, é ótima. Todo dia de manhã ela passa, já vem gritando e a gente já sabe que é ela e eu compro”, aprova o cliente Sidnei da Silva.
Histórias como a de Raimunda se refletem nas estatísticas. O último levantamento feito no Brasil mostra que para cada homem que começa um negócio, há também uma mulher. O país é o segundo no mundo em número de mulheres empreendedoras, atrás apenas da Hungria.
No Ceará, a vida dessa mulher forte, batalhadora virou exemplo. Hoje, Raimunda dá palestras, ensina como investir bem o dinheiro. Na platéia, médicas, psicólogas, assistentes sociais que desenvolvem políticas públicas no interior do Ceará.
“A dificuldade, a humildade, a necessidade, que é demais. Você passar fome de ter vontade de comer uma coisa e não ter o dinheiro para comprar. Você saber poupar aquele dinheiro que você pegou, saber dividir aquele dinheiro que você conseguiu, é isso aí que me fez isso”, explica Raimunda.
Raimunda não sabe mais onde as tapiocas podem ajudá-la a chegar. Para quem pensa em seguir o mesmo caminho, o conselho é um só: “Tanto faz R$ 1 como R$ 1 milhão, você tem que saber valorizar e usar”, ensina Raimunda.
4 comentários:
Amém, D. Raimunda!!
Meu desejo, também é começar um negócio próprio no ramo de alimentos. Penso em vender num carrinho de lanches, aqui em Fortaleza no bairro de Damas. Mas, tenho um pouco de medo de não dar certo...
Meu desejo, também é começar um negócio próprio no ramo de alimentos. Penso em vender num carrinho de lanches, aqui em Fortaleza no bairro de Damas. Mas, tenho um pouco de medo de não dar certo...
Amém, D. Raimunda!!
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