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"O sucesso só vem antes do trabalho no dicionário."

Dinheiro brotando nas terras do semi-árido da Bahia

A história dos agricultores bahianos que criaram uma caixinha para fugir dos empréstimos dos bancos (com taxas de juros elevadas) revolucionou aquela região do semi-árido nordestino. Prova de que a união é resultado objetivo da confiança e da honestidade de cada participante da poupança.




Foi preciso muita união e confiança nos vizinhos para transformar o que já foi sofrimento em bom negócio. Do sisal, sai uma fibra grossa, usada para fazer cordas e tapetes. Matéria-prima que vai para a fábrica, mas o agricultor só recebe quando o produto for vendido, meses depois. Quantas vezes eles não tiveram que vender o que tinham para enfrentar a espera? "Ter que vender uma carroça para poder manter meu trabalho é triste", diz o agricultor Osânio Nascimento.
Do início da colheita até a entrada em caixa do primeiro pagamento, lá se vão quatro meses. E, durante esse tempo, os agricultores continuam tendo despesas: eles precisam de mais ou menos R$ 2 mil para não deixar os funcionários sem receber o pagamento. É o que se chama de capital de giro, que na região, ninguém tem, só pedindo emprestado.
E para fugir dos juros altos dos bancos e até dos agiotas, os agricultores decidiram se reunir e tiveram uma idéia: juntaram o pouco dinheiro que tinham no bolso e fundaram a Caixinha do Semi-Árido. A união dos trocados criou saldo em uma conta-poupança. Quem precisasse pedia emprestado e devolvia com juros. A lei diz que só banco pode fazer isso, mas eles continuaram. E o que sobrava foi reinvestido. Da Caixinha, nasceu uma fábrica.
Prosperidade em série. Nas ruas da cidade, o dinheiro novo movimentou o comércio. Surgiram novas lojas e novos negócios. E, na cabeça dos agricultores, um novo ensinamento, que os banqueiros conhecem direitinho: dinheiro gera dinheiro.
"Nós chegamos a captar o equivalente a US$ 150 mil. Nunca tínhamos visto isso antes", conta o agricultor e presidente da cooperativa, Ranúsio Cunha. O que eles pensaram diante daquele monte de dinheiro? "Precisamos nos profissionalizar, porque o negócio é viável".
Sonhadores profissionais. Seu Osânio mostra o que a solidariedade pode construir: em 1993, a Caixinha virou cooperativa de crédito. Tudo dentro da lei. É bem parecido com um banco, mas não é. Só pode ter conta quem mora na região. E, para ter crédito e conseguir um empréstimo, tem que depositar. A cota mínima é de R$ 200.
"É a nossa vida. Esses R$ 200 de cada um significam R$ 10 milhões de empréstimos que nós temos hoje na região. Com R$ 200 de cada um, nós fomos capazes de mostrar para os agentes de desenvolvimento que é possível promover desenvolvimento em regiões tão difícil como a nossa aqui no semi-árido", ressalta o presidente da cooperativa.
Vantagens? Os juros são 40% menores que os de mercado. Lá vai o artesão José Almeida Ramos atrás de uma oportunidade. Onde mais alguém poderia pedir um empréstimo enchendo a mesa do gerente com peças de artesanato?
"Eu tenho que procurar uma linha de empréstimo para poder trabalhar. A fábrica é de fundo de quintal mesmo", assegura o artesão.
Os sonhos de seu Ramos já não cabem no espaço espremido do cubículo que ele chama de fábrica. Ele precisa de um empréstimo para crescer. "Com R$ 6 mil na mão, eu multiplico, com certeza. Confiando em Deus, tem pedido. Às vezes, saio com um pedido, e uma pessoa pergunta quantos porta-jóias eu tenho. Eu respondo que tenho dez, e ela diz que queria cem. Eu preciso de dinheiro. Eu vou crescer. Não quero crescer para 'enricar', mas para divulgar esse trabalho maravilhoso do sertão do Nordeste".
Seu Osânio é sócio-fundador da cooperativa. Galeria de honra para quem transformou a Caixinha em uma sólida instituição financeira. "Nós temos uma instrução do Banco Central para não ultrapassar os limites. Nós chegamos a esse lugar por causa da organização. Somos organizados, graças a Deus", comemora.
A vida de seu Osânio, agora com crédito na praça, seguiu em frente. Aos 69 anos, continua acordando às 4h para trabalhar. Ele sabe que "Deus ajuda a quem cedo madruga". Mas um empréstimo bem que faz as coisas andarem mais rápido.
A casa, que foi reformada, tem cisterna e energia solar. Cabras e gado ocupam as novas terras. A solidariedade transformou problemas em soluções. "Nós somos muito inteligentes", define seu Osânio, sem falsa modéstia. E são mesmo.

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