No blog Ideias e Negócios, você vai encontrar ideias e dicas de empreendimentos de sucesso para inspirar sua coragem e iniciar seu próprio negócio.
"O sucesso só vem antes do trabalho no dicionário."

O Engraxate do Futuro

Ele não precisou de mais do que mudar sua apresentação para alavancar seu negócio. Sim, é assim que Paulo Luiz vê sua profissão de engraxate. Cansado de ser olhado com indiferença e de ganhar tão pouco por cada serviço, ele pôs seu bom-senso pra funcionar e continuar a realizar seu trabalho impecável.
Com o sucesso e estilo, o rapaz já foi até entrevistado no programa do Jô -onde ganhou R$ 50,00 do apresentador, engraxando o sapato de um outro entrevistado. Agora, procura ampliar seus negócios e já começou, arrumando um sócio. Confira a história de sucesso dele e que ela te desperte a mesma criatividade e força de vontade.
No disputadíssimo mercado de engraxates da Praça Afonso Pena e arredores, na Tijuca, Zona Norte do Rio, é possível dar um trato nos sapatos por quase nada: R$ 0,50. É isso mesmo: cinqüenta centavos. Merreca. O preço é R$ 1, mas se o cliente insistir, sai pela metade.
Olhos fixos nos pés de quem passa, jovens e meninos descalços ou de sandálias de dedo, short e camiseta surrados andam pra lá e pra cá com suas caixas de madeira debaixo do braço, desconfiados de que para conquistar a freguesia já não basta talento com o pano e a graxa. Foram-se os tempos em que improvisar um sambinha com a flanela sobre o couro, na hora de lustrar, fazia a alegria do freguês.

Atento aos padrões de exigência de quem quer gastar pouquíssimo e desfilar um pisante com jeitão de novo, e depois de muito refletir sobre a melhor estratégia para enfrentar a forte concorrência, Paulo Luiz Vieira de Oliveira, 21 anos, providenciou um tapete vermelho, radicalizou no visual e arranjou um celular.
Ele conta que ouviu tantas queixas de clientes sobre o aspecto que consideram andrajoso dos engraxates em geral, que acabou tendo uma idéia. “Pensei assim: se eu melhorar a aparência e fizer com que o doutor se sinta importante, pode ser que as coisas melhorem.”
As coisas estão melhorando.

Antes da reforma geral no visual, os dias ruins rendiam R$ 15 e os bons, R$ 30. Há um mês e meio os dias ruins rendem R$ 30 e os bons, R$ 60.

Ele não veste Prada, mas impressiona De olho numa clientela fixa, Paulo Luiz fundou, há um mês e meio, o TeleGraxa. Ele não veste Prada, mas com meia dúzia de camisas sociais de cores variadas, quatro ou cinco gravatas idem e alguns ternos, tudo de marca barata e carimbado pelo tempo, montou um guarda-roupa que combina aleatoriamente, de segunda a sábado, do meio-dia às dez da noite, e agrada os fregueses. Mais: transformou uma velha cortina em tapete vermelho, sobre o qual acomoda sua caixa de engraxate e o cliente repousa os pés. Mais ainda: distribuiu o número do celular (21 8672-3074) na região e, em 45 dias, acredita ter conquistado cerca de 30 ‘doutores’ fiéis.

Celso de Castro Barbosa/G1"Doutor" Lopes tornou-se cliente fiel porque gosta do engraxate e do seu ritual (Foto: Celso de Castro Barbosa/G1)Em sua estratégia para ampliar os domínios na Tijuca pesou o fato de se concentrarem nas ruas onde atua faculdades, uma unidade da Petrobras, outra do IBGE, onde o tênis não reina absoluto. Onde é intenso o movimento de homens circulando de sapatos. São locais públicos e privados aos quais, naturalmente, Paulo Luiz não teria acesso vestido de engraxate tradicional. Quer dizer, foi preciso pôr um terno e uma gravata para fazer sua revolução. O traje é uma espécie de passaporte para um mundo totalmente novo no qual sonha ingressar, mas em outras circunstâncias.
“Desde que passou aqui em frente há um mês, só engraxo com ele”, conta Carlos Lopes, português de Bragança, 58 anos, há 31 no Brasil, dono do Café Luso Americano, botequim na esquina da Visconde de Cairú com Mariz e Barros. “Ele engraxa bem, o preço é bom e o ritual, aquele tapete vermelho, é muito divertido. Também é um bom menino”, elogia ‘doutor’ Lopes.
“Engraxar com ele é a única maneira de eu pisar num tapete vermelho”, ironiza ‘doutor’ Carvalho. Ou Cristiano Joaquim de Carvalho, cozinheiro, 36 anos, que aproveita a hora do almoço para engraxar os sapatos.

Tristeza e otimismo
Nem só de graxa sobrevive esse paulista de Mogi das Cruzes. No apartamento em Santo Cristo, Zona Portuária, onde vive com Cleby, a mulher 13 anos mais velha, e dois filhos dela, passa as manhãs e as folgas dedicado ao artesanato. Pulseiras e brincos em macramé são as peças principais de sua coleção, à venda a partir do dia 18. Quem vai vender, em bares e restaurantes, é a mulher. A pedido de Luiz, ela deixou o trabalho de catadora de papel para reciclagem.
Filho de uma faxineira de Minas Gerais e de um pai que nunca viu nem sabe quem é, do Rio de Janeiro, Paulo estudou até a 5ª série do ensino fundamental. Não foi além por absoluta falta de meios. Por isso, aos dez anos mergulhou no mercado informal de trabalho e nunca mais veio à tona. Jamais teve a carteira profissional assinada.
Ainda em São Paulo, tirou leite de vaca em fazendas do interior, foi servente de pedreiro na capital. Sua admiração por parques de diversão o levou a buscar serviço no setor. Numa das tentativas veio parar no Rio. Perdeu o contato com a mãe há cinco anos e a última notícia que teve dela foi de que se casou com um cigano e sumiu no mundo.
Ele também se dedica à poesia, mas uma leitura rápida e desatenta de alguns poucos poemas dá a impressão de que, como poeta, trata-se de um engraxate notável. Sente-se elegante em seus ternos e não vacila em apontar um homem que admira pela elegância. “O Tom Cruise é dez!”, avalia.
Paulo Luiz Vieira de Oliveira, brasileiro, tem no olhar uma mistura de tristeza e otimismo. Sonha com a volta aos estudos, mas não sabe o que quer ser exatamente. “Na verdade eu queria um pouco de estabilidade”.

Um comentário:

marcos disse...

Fico feliz em saber que tem alguém que valorize este trabalho (engraxate),hoje muitos empresários de sussesso já passaram por essa profissão,que atualmente é discriminado pela maior parte da sociedade.
Com muito orgulho fui engraxate e se for presciso mesmo com 25 anos agora,voltaria a profição.
Parabéns para todos engraxates é um orgulho ter esta profição em meu curriculo.

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